sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Resenha II Mostra de Pesquisa de Nutricionistas na UFRGS

Resenha II Mostra de Pesquisa de Nutricionistas na UFRGS

29 de agosto de 2007- Auditório da Escola de Enfermagem

A II Mostra de Nutricionistas na UFRGS ocorreu no dia 29 de agosto de 2007, no Auditório da Escola de Enfermagem e foi aberta pela professora Ana Beatriz Oliveira do curso de graduação em Nutrição e pelo diretor da Faculdade de Medicina, Mauro Czepelevsk. No discurso de ambos estavam expressos sentimentos de felicidade pela realização do evento e pelos trabalhos em pesquisa desenvolvidos pelas nutricionistas; e também a expectativa que o evento incentive os acadêmicos presentes a desenvolver pesquisa.

O primeiro trabalho apresentado foi de uma ex-aluna, formanda da primeira turma de Nutrição, Aline Guiouleas. Ela apresentou sua dissertação de mestrado, realizado no programa de pós graduação em Epidemiologia, sobre altura e aspectos socioeconômicos de conscritos,ou seja, jovens alistados nos anos de 2000 a 2004 no serviço militar obrigatório do Rio Grande do Sul. Estabeleceu relações a altura e o IDH das cidades e, entre os anos de alistamento, observando uma relação positiva, indicando aumento na altura dos jovens no geral. Houve uma exceção gritante em relação aos jovens de região sudeste do estado, onde ocorreu diminuição da estatura e estaturas mais baixas em relação a outras regiões do Estado. Outro ponto interessante foi a queda na altura dos jovens que nasceram nas épocas de menor insolação, ou seja nos meses de inverno. Pensando sobre a tabela do NCHS, usada como referência para avaliação nutricional e usando a escala prospectiva de centímetros que a população ganha em altura por ano, Aline ressaltou que levaremos 50 anos para que coincidam as médias de altura referidas na tabela e da população do Rio Grande do Sul. Sua perspectiva de continuidade no trabalho é estender a todo o país, com o foco também no peso destes jovens.

Mariana Ramos, que concluiu seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da UFRGS, apresentou o trabalho “ Comida da Roça: Saberes e Práticas Alimentares em Agricultores de Maquine”. Este versava sobre as práticas alimentares atuais e as mudanças na alimentação desta população, que mesmo mantendo uma característica bem rural, dada sua posição geográfica, com afastamento de centros urbanos, tem adotado hábitos caracteristicamente urbanos. Podemos destacar que muitos cultivos foram abandonados, principalmente trigo e arroz, pelo seu baixo preço de venda, mas também baixo preço para compra. Isso se relaciona intimamente com outros fenômenos que levam a diminuição da produção de alimentos para o auto-consumo. Mesmo assim, a comida que vem da cidade é considerada fraca e a para auto-consumo se mantém valorada como comida pura, saudável. Aumento de alimentos industrializados e a incorporação do discurso médico também estão presentes. Para pensarmos ficam as questões econômicas (manutenção dessas famílias no campo, segurança alimentar), políticas (autonomia dos produtores), nutricionais (consumo de alimentos industrializados, diminuição de alimentos integrais) e simbólicos ( do alimento, da sua condição como agricultor).

O terceiro trabalho foi apresentado pela professora Josi Mello, sobre análise microbiológica de queijos, onde foi encontrada Listeria Monocitogenes, além da análise de alguns genes da cepa presente nestes queijos. A discussão levantada é muito relevante quando pensamos que não se conhece muito sobre este microorganismo (sua virulência, a incidência dos casos), mas que o que se sabe é que a listeriose por ser fatal em mais de 30% dos casos, causando abortos e meningite. Entretanto, não é protocolo a investigação de Listeriose e os casos ficam mascarados, não se conhecendo sua real importância na saúde pública.

O quarto trabalho, apresentado pela professora Sandra Barbiero, foi sobre sobrepeso e obesidade em escolares de Porto Alegre. O trabalho foi desenvolvido junto ao núcleo de prevenção de doenças cardiovasculares do Hospital de Cardiologia. A justificativa se encontra baseada em trabalhos que relatam lesão arterosclerótica em jovens. Foi realizada avaliação nutricional e recordatório da dieta. Guloseimas tiveram consumo freqüente, houve correlação entre sobrepeso/obesidade dos filhos com sobrepeso/obesidade dos mais, mais acentuadamente da mãe, o índice de sobrepeso obesidade foi maior em filhos únicos e em nascidos prematuos. A conclusão foi de que há necessidade de trabalhar educação nutricional com os escolares para reverter esse quadro alarmante de desnutrição (lembrando que desnutrição diz respeito a estado nutricional inadequado, tanto a subnutrição, quanto sobrepeso/obesidade).

À tarde a primeira apresentação foi da nutricionista Nêmora Cabislani, sobre adolescentes vegetarianos. Não participei da apresentação porque já conhecia o trabalho de outro momento, e, aliás, gostei muito, pois e temática do vegetarianismo é bem controversa no meio acadêmico, e tendo em vista que são muitos os adeptos desta prática, o tema tem que ser mais estudado.

O trabalho seguinte, sobre a desnutrição e Fibrose Cística, alertou-nos sobre que os pacientes com esta doença merecem um cuidado especial na avaliação nutricional. Os parâmetros de desnutrição e risco de desnutrição devem ser mais rigorosos para diminuir o risco de piora do estado nutricional, pois há um agravamento significativo dos sintomas respiratório deste pacientes. Segundo o estudo a relação entre estado nutricional e capacidade ventilatória foi positiva.

Vivian Luft apresentou o trabalho seguinte: “Nutrição Enteral como Fator de Risco para Diarréia em Adultos Hospitalizados”. Foi confirmado que pacientes que fizeram uso de nutrição Enteral tiveram 2,7 vezes mais diarréia que os demais, mas quando os dados foram ajustados para fatores de confusão. Entretanto, observando os protocolos de higienização e troca de equipos, quando o procediemento correto era realizado a incidência de diarréia era muito semelhante a de pacientes que não utilizaram sonda, reforçando a importância de orientar que esses protocolos sejam realizados corretamente.

O trabalho de doutorado da professora Teresa foi sobre “Anemis Ferropriva na Infância: Prevalência e Fatores Associados na Amazônia Ocidental Brasileira”. A pesquisa foi realizada no Acre, com todas as crianças de dois municípios. A proposta era avaliar anemia por mais critérios que apenas a hemoglobina, que não permite avaliar a reserva de ferro. Dessa, foram avaliadas a hemoglobina, a ferritina plasmática e o receptor de transferrina, para evitar o mascaramento dos dados de transferrina em função de infecções. Os dados socioeconômicos encontrados foi que a anemia, ale de ser muito prevalente, estava relacionada a escolaridade dos pais, ao índice de riqueza, a idade(mais prevalente em crianças de dois anos), a ocorrência de diarréia nos últimos 15 dias e ao número de pessoas por dormitório na casa. A conclusão foi de que, por ser uma doença social, há necessidade de ações preventivas, no caso em crianças menores de 2 anos, que não se justifica focar as ações de saúdo na população mais pobre e que são indicados a fortificação de alimentos e suplementação medicamentosa nos grupos de risco. Mas eu ainda vejo o tema como muito controverso.

Por fim, a professora Magda apresentou seu trabalho sobre Licopeno, eu realmente gostei muito deste trabalho, por ver que em algum caso podemos dizer com segurança que o alimento é mais eficaz que o suplemento numa ação clínica específica. No trabalho dela os homens com aumento benigno da próstata consumiram sistematicamente molho de tomate e reduziram os marcadores de risco para câncer.

Os trabalhos apresentados trouxeram diversos saberes das várias áreas da Nutrição. E de acordo com afinidades, cada participante se interessou mais por alguma fala específica, mas acredito que algumas coisas foram marcantes para todos. Algo que me marcou muito foi a manifestação da professora teresa ressaltando que lemos pouco, que precisamos ler. Acredito que não apenas ler mais no sentido direto, mas que precisamos sim estudar mais, aprofundar nossos conhecimento e não nos contentarmos com o mínimo necessário para obtermos nossa formação profissional.Também apareceu a necessidade de diálogo permanente entre as áreas da Nutrição, não apenas pesquisar, mas divulgar esse conhecimento adquirido e buscando encontrar e mostrar a aplicabilidade dele em todos os campos de atuação. Nesse sentido a Mostra de Pesquisa foi muito feliz nesta troca de saberes, ao mesmo tempo que despertou a consciência dessa necessidade. Quanto a mensagem fundamental do encontro, esta ficou clara desde o objetivo do evento: PESQUISAR, que o nutricionista deve buscar formação continuada e promover saúde através da produção de conhecimento, para conseguirmos realizar Nutrição baseada em evidências, e evidências de qualidade, desenvolvendo ferramentas para garantir o direita a saúde da nossa população.

Um comentário:

maya disse...

tambem não precisava ser tão grande